Bullying - entendendo para superar

Por Daniel Nunes em 11/11/2014

“A agressividade não é uma força destrutiva. Ela brota da tendência inata de toda espécie viva por dominar a vida. É somente quando a raiva e o ódio se conectam a ela que seus efeitos nocivos nos atingem.” Frederick Weiss

 

A pergunta que quero responder com esse texto é a seguinte: Qual é a contribuição que a Psicologia Junguiana tem a dar para a compreensão e superação do Bullying? Já existe muita coisa escrita para descrever o que é o Bullying, bem como suas consequências e por isso não serei prolixo. Vou direto ao que o texto se propõe.

Sem sombra de dúvidas estamos falando aqui de autoestima. Um acontecimento desse afeta profundamente a autoestima de quem sofre. Mas eu vejo que existe uma tendência de se achar positivo quando alguém que sofreu Bullying conquista posições de poder ou destaque em suas vidas, já que estas pessoas foram apequenadas anteriormente. Frente a isso eu diria o seguinte: dos males o menor!!! Afinal há também aqueles que permanecem aniquilados pelo resto da vida.

A Psicoterapia Junguiana entende que o primeiro passo verdadeiro na resolução de um conflito está na tomada de consciência das forças ligadas a ele. O simples fato da pessoa se tornar maior ou mais importante não traz a consciência do problema e, muitas vezes vemos esses indivíduos fazendo mau uso de seu poder. Mas como se tornar consciente de tais forças?

Para a Psicologia Junguiana, o ser humano vive sua vida cotidiana em bases mitológicas, históricas e culturais. Não somos conscientes disso, mas os mitos, a história e nossa cultura vivem em nós.

O mito do Bode Expiatório é o esteio que dá as bases para que o Bullying aconteça. Neste mito, originalmente, se sacrificavam dois bodes para dois deuses – Azazel e Jeová. Azazel, antigamente, era um deus respeitado tal qual Jeová. O bode sacrificado a ele era solto no deserto para caminhar até sua morte, expiando assim os pecados das pessoas. Mas houve um momento na história no qual Azazel passou a ser considerado um ser demoníaco e não havia mais quem expiasse os pecados. Essa ruptura histórica fez com que o pecado passasse a permanecer com a própria pessoa. Como é desagradável viver com nosso lado sombrio!!! Certamente as pessoas encontrariam um jeito de tirar de si o mal. E assim o fizeram – passaram a encontrar pessoas nas quais pudessem depositar seus pecados. Quando um indivíduo recebe as imolações dos outros, ele, mitologicamente, passa a representar o bode de Azazel, podendo carregar consigo as mais diversas sombras humanas.

 Uma imagem contemporânea de Azazel

Com isto que eu disse, eu não quero entrar no mérito dos motivos que levaram alguém, seja jovem ou adulto, a se tornar uma vítima de Bullying. Mas é muito importante que se entenda que esta pessoa passou a carregar uma sombra coletiva e não mais individual. O feio, o estranho, o diferente, o fraco, o burro, o incompetente, seja lá qual for a condição a qual está submetida a pessoa, ela está sendo condenada pelo coletivo à expiação do que os outros negam em si mesmos. Quero saber quem não tem nada de estranho dentro de si? Quem não se sente incapaz de vez em quando? Quem nunca se sentiu inadequado?

Mas quando existe alguém que carregue estas projeções, o jugo dos outros se torna mais leve. Essa é uma das grandes crueldades do coletivo. Para a maioria se sentir bem em sua mediocridade, há que se eleger alguém para ser rebaixado abaixo de todos.

E agora? E este que sofre? Qual é o olhar da Psicologia Junguiana para este que veste o papel do bode? Vou procurar escrever de forma simples e clara.

Inconscientemente este indivíduo possui uma imensa quantidade de agressividade que não consegue ser expressa de forma adequada, afinal o bode deve se sacrificar para a libertação dos outros. Inconscientemente ele carrega estas imagens como se fossem suas e a força dessas imagens, unidas a sua agressividade inconsciente, se torna um dínamo que fomenta grandes fantasias, mas que se mantém escondido da consciência, boicotando as melhores intenções destas pessoas.

Quando se inicia o processo de tomada de consciência, tanto a agressividade quanto as fantasias começam a vir à tona. Este é um momento muito difícil, pois imaginem o que é para uma pessoa se deparar com uma figura demoníaca dentro de si. Fantasias de poder, desejos homicidas e suicidas, fantaisas de diversas naturezas que perambulavam ocultas agora mostram sua face e, junto com elas, uma alta dose de agressividade que o indivíduo não sabe ainda expressar de forma adequada. Certamente este é um momento dolorido e delicado da psicoterapia.

O tempo necessário para se transpor este momento é de cada pessoa. Há aqueles que recuam, pois não se veem capazes de tal feito. Mas na medida em que se dão esses passos, estas pessoas passam a poder sentir a paz de não ter qualquer dívida a pagar. Agora não é mais necessário dar qualquer resposta ao mundo, pois, assim como eu disse no início, muitos acreditam que se tornando bons ou grandes poderiam se ver livres de sua inferioridade moral (inconsciente é claro). Acredito que depois do que escrevi ficou claro que isso seria apenas uma compensação, mas tanto a agressividade quanto as fantasias iriam permanecer no inconsciente, e por mais bom ou grande que se torna o indivíduo, o mal ainda estaria lá!

Atravessada esta ponte, o indivíduo estaria emocionalmente desligado de seu passado. Ele mesmo foi quem se perdoou e sua vida pode agora seguir não mais o destino das sombras do coletivo, mas o destino de sua própria existência.

 

Daniel Nunes reside na cidade de Campinas e atende como psicoterapeuta em um Spa no bairro Cambuí.

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