A Depressão em Psicologia Junguiana

Por Daniel Nunes em 17/07/2014

Quando alguém se encontra em um quadro depressivo, seja ele passageiro ou mais duradouro, este geralmente se vê sem forças para enfrentar as situações quotidianas. Por mais óbvia que seja a necessidade de se tomar um banho, não há qualquer motivação. Mesmo que se saiba que faltas consecutivas no trabalho podem provocar a perda do emprego, não há a mínima disposição para ir trabalhar. E assim muitas outras necessidades primárias são deixadas de lado por um vazio interior, qual um buraco negro que nos suga toda energia. Quem nunca experimentou um estado depressivo não pode julgar alguém que não tem forças para levantar da cama.
E aqui eu já quero apresentar um primeiro conceito da psicoterapia junguiana. Jung diz que a energia psíquica é uma só; o que muda é sua configuração. A nossa energia vital varia de acordo com nosso sono, alimentação, etc. Entretanto, a energia psíquica não sofre variação de quantidade, mas de qualidade. Essa compreensão é muito importante, pois isso significa que a energia está com a pessoa. Mas nesta configuração que chamamos de depressão, ela não está disponível.
Mas como assim?!? Se ela não está disponível, onde ela está?!?
Vou dar um exemplo antes de explicar.
Uma pessoa costuma dormir todos os dias às 10 horas. O sono a essa hora é grande e ela já não tem a mesma disposição de quando acordou. O telefone toca e ela recebe uma notícia de que passou no vestibular, mas que irá precisar ir naquele momento a outra cidade para realizar a matrícula no dia seguinte pela manhã. Como esta pessoa sonhava muito com essa vaga, neste momento a sua “configuração” muda e ela assume uma postura de muita alegria e disposição para viajar. Talvez nem consiga dormir a noite devido à excitação da conquista.
Bom.. o que nos mostra esse simples exemplo? Ele mostra que a alegria da notícia mobilizou uma energia da qual a pessoa não estava consciente. Essa energia estava lá, mas não presente na consciência, caso contrário a pessoa não sentiria sono.
A psicologia junguiana considera que temos uma parte consciente e uma parte inconsciente. Assim, na consciência nós nunca teremos toda nossa energia psíquica, caso contrário não haveria inconsciente. A depressão é um estado no qual grande parte da energia que deveria estar na consciência fica presa no inconsciente. Há muitos motivos que podem provocar este aprisionamento de energia. Uma grande perda, frustrações constantes, um ideal não realizado, entre outras. Quando se trata de algo crônico, geralmente falamos de uma condição fisiológica mais delicada de se transformar. Mas em qualquer dos casos, é fundamental que a terapia permita que a pessoa reconheça o sentimento que está drenando suas forças para o inconsciente. O psicoterapeuta não pode fazer isso pela pessoa. Mas ele pode usar a terapia para ser um espelho em sua frente e encorajá-la a olhar em seus olhos. Há que se ter coragem para ver nos próprios olhos o medo da vida… mas mais do que isso.. por trás do medo, a profunda vontade de viver encoberta por uma compreensão deformada da realidade. Uma vontade encoberta por um sentimento do qual dificilmente a pessoa quer se desfazer, pois isso implica muitas responsabilidades perante a própria vida, e ela sente justamente que não quer viver.
Vencer uma depressão é um grande grito de amor por si.

Palavras-chave: psicologia junguiana
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